segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Um cantinho, um violão

Perigo escorre
Desejo imenso
Vontade corroendo
É preciso voltar

Arrancar a tua camisa
Rasgar costas
Deixar marcas profundas

Quero andar toda vida com você
Por aí
Permaneça sensação
Liberdade entre nós

Gosto do cheiro de cigarro
Até do vocabulário errado

Tua mão, minha coxa
Minha boca, teu alargador
Tua boca, minha nuca
Teu nariz, meu cangote
Tua mão, meu quadril
Minha boca, tua boca

Minha mão, teu cabelo
Tua boca, minhas costas
Minha boca, teu ombro
Minha unha, tua carne
Tua mão, meu short
Minha mão, tua calça

No portão, seu irmão
E no beijo de despedida
A frieza proposital
Sentir saudade
Querer mais.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Parede mole

Ruivos ou filósofos
Barbudos de óculos
Respiram
Cigarros sedutores
Um milhão de amores

Azulejos sujos
Cravados no muro.
Na parede do meu ser
Inda é primavera...

Valor

Sou máquina
Velha defeituosa calculadora
Tenho resposta:
Zero.

Previsível motorizada
Perdi manual.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Amores-imperfeitos são as flores da estação



Sim, hoje vou escrever pra caralho. Meu eu-lírico sumiu e foi pro país da razão. Não posso lembrar daquele dia. Um simples dia em que a água da minha casa acabou, o chuveiro queimou, meu primo ficou bêbado, meus amigos sumiram e ainda assim um dia perfeito. Agora entendo essa coisa de dia perfeito das músicas pop-românticas.

Guardei cada olhar, sorriso de boca fechada, cada respirada no cabelo, cada frase com ar de experiência, cada música cantada e aquele abraço no ponto de ônibus. As coisas fluiram, tipo papo de Paulo Coelho, que o universo conspira e o pior: naquele dia conspirou mesmo. Roupa nenhuma ficava bem em mim e arrisquei em ir de preto. Com certeza estava mais bonita que o costume, pois estava florida, despretensiosa. Quando estamos sem pretensões de ser feliz, acontecem as melhores coisas de nossas vidas e geralmente são os momentos mais ricos desta encarnação. Completa com um semi-conhecido, realizada. Todo show tem sua magia e a magia do jeito dele me encantou.

Às vezes acho que ele viu em mim coisas que ninguém viu. Às vezes acho que não é nada disso. Às vezes acho que o encanto da noite fez com que eu me visse de modo diferente, e ele mesmo talvez não tenha visto. Não sei.

Talvez eu seja mesmo a penúltima romântica dos litorais desse Oceano Atlântico. Mas então por que me escreveu todas aquelas coisas e disse que ia me ligar? Eu poderia aceitar isso de maneira um pouco melhor. Poderia então amar o cara que me ligou hoje 12h e 40min e que quer me ver sexta-feira. Odeio não conseguir controlar meus sentimentos, me sinto escrava deles e sei que isso não é certo.

Sei que amanhã essa história toda provavelmente encherá o meu saco e eu porei uma pedra em mais um casinho adolescente dessa minha vida pacata, mas não queria!

Fico estarrecida com a capacidade de desapego das pessoas. Me sinto uma extra-terrestre. As pessoas que cantam funk e vibram com a poesia dessas músicas são as mesmas que adoram usar "Tu és eternamente responsável por aquilo que cativas". O mundo é irônico e contraditório. Estou inclusa no mundo, logo sou contraditória. Não me interesso por pessoas certas, chego a ser fria e com outras gasto tempo escrevendo. Todavia, nessa situação foi diferente. A gente sempre acha que na situação atual é diferente. Mas não é.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Por uma coisa à toa



Se acaso me quiseres sou dessas mulheres que só dizem sim... por uma coisa à toa, uma noitada boa, um cinema, um botequim. E, se tiveres renda, aceito uma prenda, qualquer coisa assim, como uma pedra falsa, um sonho de valsa ou um corte de cetim.
E eu te farei as vontades, direi meias verdades sempre à meia luz. E te farei, vaidoso, supor que é o maior e que me possuis. Mas na manhã seguinte não conta até vinte, te afasta de mim, pois já não vales nada, és página virada, descartada do meu folhetim.


(Chico Buarque)

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Minha carne é de carnaval e o meu coração é igual

Não vou deixar que a razão me impeça que fazer aquilo que sinto. Vou experimentar o fruto proibido. Saboreá-lo lentamente e aos poucos a textura da polpa molhada e saber qual aroma me inspira. Tomara que não tenha odor de goiaba. Espero que os beijos sejam rubros como morangos, suaves como pêssego e doces como o mel da jabuticaba.
E nessa salada de frutas da vida eu vou levando o meu amor. Não sei pr'aonde, nem porque, só sei que vou levando e escrevendo minhas incertezas sentimentais.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Só ficou no muro tristeza e tinta fresca


Eu. Era tão feliz. Por que eu sempre tenho essa sensação de que hoje sou menos feliz que antigamente? Não me arrependo, mas a saudade que surge é algo inexplicável.
Sinto muita saudade, entretanto, só consigo sentir essa dor de coisas boas. As coisas ruins, eu falo sóbria, sem saudade, como um fato. Mas a saudade das coisas boas eu falo com a voz trêmula, pra ninguém. Talvez nem pra mim mesma. Essa saudade "boa" destrói todo mundo.
Ela sempre está com a gente, em todos os lugares, só que nos lembramos dela apenas no momento em que estamos sem fazer nada. Isso. É no nada que ela surge. Do nada pro tudo. Pelos instantes felizes e simples que passamos que não voltam e que na hora a gente não sabia que seria relembrado com tanto amor.. porque na hora foi uma gargalhada, uma piada, um soco, um passo, um gesto. Todo momento perfeito, na hora em que ele está acontecendo, a gente não tem tempo de pensar que vai sentir saudade dele.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Nunca penso em títulos

Eu sou feita de ar,
De folhas prateadas,
Um pouco de pedra,
Um tanto de mar

Não sou feita de rio,
Mas transbordo como ele
Tenho margens largas,
Águas claras e rasas

Eu sou feita de tempestades:
Às vezes chovo, às vezes não.
Abro num sorriso o Sol
Em qualquer gesto a Natureza

Não sou feita de água,
Mas posso ser fria como ela
De gotas e mais gotas
E ser, também, perigosa

Eu sou feita de fogo.
Fogo que aquece e acalenta,
Que incendeia
De raiva!
Paixão.

Não sou feita de silêncios,
Mas sei me calar.
Tenho barulhos únicos
E sons tão profundos
Como o cheiro da vovó
Ainda vive no casaquinho
De lã.
Não consigo me desfazer...

Sou feita de amores.
Efêmeros amores
Eternamente efêmeros
Efêmeramente eternos...

Não sou feita de intelectualidade,
Mas posso ser o sentimento mais puro
Do versinho rimado
Escrito na alfabetização

Eu sou feita de festas
Vazias
Poucos amigos.
Espalhando alegria,
Sem dinheiro
E muita história pra contar

segunda-feira, 21 de junho de 2010


Odeio a mediocridade. Odeio goiaba. Odeio esquecer o guarda-chuva no dia mais chuvoso. Odeio perder o ônibus. Odeio a indiferença do Ramon. Odeio saber que pessoas passam fome. Odeio abobrinha. Odeio matemática. Odeio tédio. Odeio violência. Odeio aula vaga. Odeio São Paulo. Odeio falta de opção. Odeio também quando tenho muitas opções. Odeio não ter inspirações. Odeio estudar tão pouco. Odeio homens depilados. Odeio essa maldita gula. Odeio o relógio da moda. Odeio religiosos fanáticos. Odeio pessoas grudadas. Odeio anti-patriotas. Odeio pseudo-leitores: ou leia Jorge Amado, ou não leia nada. Odeio quando pessoas boas sofrem. Odeio mais ainda quando pessoas ricas se dão bem. Odeio a falta de interesse. Odeio a ausência da ambição mais simples. Odeio odiar. Odeio sentar bem naquele chiclete. Odeio gente falando enquanto escrevo. Odeio quem vende voto. Odeio o melindre. Odeio copiar dever do quadro, até porque eu não copio. Odeio perdas, excerto a de peso. Odeio a distância. Odeio vomitar. Odeio restrições. Odeio o só, o apenas. Odeio a incoerência. Odeio os Estados Unidos. Odeio a tristeza. Odeio Calypso. Odeio fofoca. Odeio estar sem óculos. Odeio coisas sem graça alguma. Odeio elevador. Odeio ônibus lotado. Odeio o Colégio Ruy Barbosa. Odeio muito. Odeio pessoas que ligam ventilador mesmo estando de casaco. Odeio unhas que parecem carnaval. Odeio banho frio no inverno. Odeio banho quente no verão. Odeio menstruar.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Seu abraço é a minha casa que não vou ter


Não sei de mais nada. Ando extremamente sensível. Me sinto um animal, que penso menos do que sinto. Os meus instintos femininos me dominam, me puxam e me arrastam.
Conheci um mundo mágico, vazio, sensual, poético. E eu que sempre preferi a razão, a simples e certeira razão... O novo mundo está na minha pele, na minha nuca, no meu arrepio, na minha vontade. E a poesia, o lirismo de quando o sinto está no meu cérebro.
Acho que sonhar não custa nada, e se desiludir custa tudo. Sonhar me move, me dá vida, amor e emoção. Quero conhecer tudo! Amar mais ainda meus amigos, participar de tudo. Estou muito ausente de mim mesma. Preciso pisar mais no chão, me preocupar, me estressar, me rasgar.
Posso ser tão fria como um iglu, desabitado pelo meu desejo mais repentino. E posso ser tão quente quanto o incêndio que corrói o prédio mais lindo de São Paulo. Não consigo me encontrar nas chamas de São Paulo, quiçá em minha própria casa gélida. Só sei que odeio São Paulo, e o silêncio da minha casinha assombrada. Mesmo assim estou cuidando do meu iglu, pra que uma hora, quem sabe, possa até mesmo um paulista sobrevivente do incêndio vir a habitar essa casa fria, ou pelo menos me dar um beijinho de esquimó.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Feriram a fera


Encontrei o amor da minha vida. E parece que todo o resto pior sobressai ou toma a mesma dimensão do tamanho e sentimento do meu amor.
Como pode um simples comentário e pergunta barata me ofender tanto? Como pode, todo, o ser humano ter uma ferida aberta que passam maquiagem nela?
Ferida é feia. Bruta, dói. Se não doesse, não seria ferida. Dói, dói, dói. Nunca para de doer, parece que é um mal pra toda a vida. Será? Eu não sei. Só sei que odeio. Odeio todas as pessoas falsas, hipócritas, semiperfeitas. Semi mesmo, porque não existe perfeição. Então calem a boca: vocês são todos um bando de semi!
O mais curioso é que quando a ferida é velha, a gente acostuma, como se fosse uma cicatriz, uma mancha no corpo. Ela existe, temos que aprender a lidar com ela. Incomoda. Acomoda. Irrita. Deixamos quieta. Até que chega alguém, qualquer alguém, e rasga essa cicatriz, sem anestesia alguma, com toda a vontade de abrir, de voar a dor.
Sim, se a dor voasse seria na ferida.